Como aplicar o paisagismo em ambientes residenciais?

Publicado em 8 de junho de 2020

Tempo de leitura: 7 minutos

“O jardim é um fragmento de sonho”

(Miranda Martinelli Magnoli)

O paisagismo é, por definição, uma vertente da arquitetura que projeta, planeja, faz a gestão e a preservação de espaços livres. Portanto, esses espaços livres podem ser públicos ou privados, urbanos e não-urbanos. Simplificando, o arquiteto paisagista é aquele responsável por organizar a paisagem.

Arquiteta Francine Sakata.
Francine Sakata: arquiteta e urbanista, graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAUUSP) em 1996; mestre em em Estruturas Ambientais Urbanas, em 2005, e doutora em Arquitetura e Urbanismo, em 2018. Autora de “Paisagismo urbano: Requalificação e Criação de Imagens” e co-autora com Silvio Macedo de “Parques Urbanos no Brasil”. Professora da FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo desde 2018. É pesquisadora do Projeto Quapá-SEL, tendo participado e organizado oficinas sobre sistemas de espaços livres com a comunidade acadêmica e o Poder Público em diversas cidades brasileiras. Membro da ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, também desenvolve projetos paisagísticos para espaços públicos e privados.

Neste período de isolamento social causado pela COVID-19, sabemos que muitas pessoas estão olhando com maior carinho para os diferentes ambientes de casa. Outras, estão planejando a casa dos seus sonhos. E o paisagismo, principalmente para a criação de jardins, ambientes verdes e áreas de lazer, pode surgir como opção. Mas como começar?

Batemos um papo, bem bacana, com a arquiteta Francine Sakata, membro da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) sobre o tema. Então, durante o artigo, tentaremos desmistificar algumas questões que rondam o paisagismo e mostrar a você, leitor, que este pode, sim, ser uma ótima opção para o seu projeto!

Vamos começar um #PapoDeEspecialista? 😊

Como começa um projeto de paisagismo?

Como já vimos anteriormente aqui no blog, quando falamos sobre projetos de arquitetura, falamos também sobre planejamento. O profissional paisagista estuda a paisagem urbana, a área construída, a circulação de pessoas e a sua presença nos espaços livres. Principalmente porque uma das principais preocupações do arquiteto é integrar o ambiente construído ao seu entorno e à natureza.

“Quando temos o projeto residencial, nós precisamos analisar o fluxo de entrada e de saída, e não só de pessoas. Precisamos saber por onde entra e por onde sai o lixo. Onde vai ficar o cachorro. Ou, se temos uma área mais larga, que pode ser uma área de estar ou uma área de piscina, por onde a gente acessa isso”, explicou Sakata.

Outra etapa seria a análise da insolação e das vistas. “Por exemplo, precisamos saber onde bate o sol no terreno, onde a sombra é projetada e onde existe uma vista boa que deve ser valorizada. Quando temos um terreno em declive, pode ser possível enxergar as árvores do vizinho. Se a vista é ‘ruim’, por exemplo, você vai enxergar a janela do vizinho. Existe essa relação porque a vista pode ser valorizada ou escondida”, disse.

“Há também uma relação com os espaços da casa. Assim, se você tem a saída da sala, pode ser legal fazer um pátio fora da sala. Esse pátio pode ser uma pracinha que dará apoio ao uso da sala”, resumiu a arquiteta.

Como a ideia do paisagismo é oferecer harmonia entre os elementos de um lote sem agredir a natureza, arquitetos paisagistas planejam como se estivessem fazendo uma pintura. “Os jardins e áreas externas podem, por exemplo, funcionar como um quadro quando você está dentro de casa. O que você vê da janela do seu quarto? O que você vê da sala? Quando fazemos o projeto, precisamos pensar nisso”, disse.

Projeto de estudo para varanda e deck para residência com paisagismo.
Estudo para varanda e deck para residência em São Paulo.
Projeto: Francine Sakata. Modelagem: Felipe Neres.

Qual é o projeto de paisagismo ideal para cada estilo de vida?

Como explicamos antes, o paisagismo é um ramo muito amplo da arquitetura. Ele pode ser aplicado em muitos espaços, principalmente públicos. Quando falamos de projetos de paisagismo para residências, geralmente o relacionamos ao bem-estar dos moradores da casa.

Durante a entrevista, a arquiteta Francine Sakata explicou sobre o aproveitamento e planejamento do espaço. “Ás vezes, a casa tem uma lateral, um canto, que pode ser aproveitado para a criação de um jardim. Se falamos sobre maiores espaços, prioritariamente exploramos paisagismo para o lazer”, disse.

Para que o paisagista consiga encontrar o projeto ideal para você, pontos importantes devem ser levados em consideração. “Precisamos saber como é a família. Se fizermos o jardim, para que ele será utilizado? Vai fazer ginástica? Vai dar festa? Tem criança? Tem pet? Da mesma forma que uma casa é feita a partir de um programa de atividades, a área externa também tem que ser planejada a partir de um programa de uso”, explica.

Outro aspecto importante, destacou a arquiteta, é sobre o espaço existente. “Ás vezes, a pessoa tem um espaço pequeno em casa. Então, quando isso acontece, ao invés de criarmos um grande cronograma de atividades, nós optamos por fazer uma área de piso multiuso. Um espaço que permita que a pessoa faça yoga, jogue bola ou instale uma espreguiçadeira. Nos lotes urbanos, isso é muito comum. Portanto, uma escolha esperta e previsível é, geralmente, a solução”, exemplificou.

Projeto de paisagismo executado.
Residência no Campo Belo. Arquitetura: Jamelo Arquitetura.
Plantio: Francine Sakata. Foto: Nelson Kon.

Como projetar um jardim ideal?

Quando o arquiteto paisagista projeta o jardim ideal, ele pensa, principalmente, na harmonização. Como citamos anteriormente, o profissional busca, por meio de escolhas certeiras, organizar a paisagem de um determinado ambiente. Neste caso, o jardim.

“Nós procuramos usar, sempre, espécies que estão disponíveis no mercado. Por serem encontradas com maior facilidade, elas costumam ter uma manutenção melhor e mais barata. Assim, geralmente, essas plantas já são apropriadas para o paisagismo por serem mais resistentes e fáceis de cuidar”, citou a arquiteta.

Além disso, a vegetação escolhida pode ser plantada diretamente no solo, quando há espaço; em vasos, dentro de casa, no quintal ou ainda aqueles suspensos; ou pode ser rasteira, como a implementação de um gramado. “A planta, no solo, costuma ser de mais fácil manutenção, já que a terra possui nutrientes que garantem o seu crescimento sem tantas exigências de cuidado. Já o vaso, quando é regado, pode ficar seco. Se não houver um cuidado contínuo, a planta vai morrer. A grama também costuma dar trabalho, já que precisa ser cortada com frequência, demandando tempo do proprietário”, explicou.

Existe, também, a opção por árvores e arbustos, que costumam ser fáceis de cuidar e dão um visual especial para a área externa de casa.

Projeto da InstaCasa com paisagismo na área externa.
Projeto da InstaCasa com paisagismo na área externa.

A contribuição às grandes cidades

Vimos aqui no blog, anteriormente, algumas informações sobre o tema “permeabilidade do lote”. Por isso, sabemos que o conceito deste termo, simplificadamente, nada mais é do que a capacidade do solo de absorver a água da chuva.

Todas as cidades, como explicamos, possuem índices de “taxa de permeabilidade”. Trata-se de uma exigência de que uma porção do lote, privado ou público, seja permeável. Portanto, em lotes urbanos e particulares, como é o caso dos ambientes residenciais que estamos abordando neste artigo, bons projetos de paisagismo influenciam positivamente para que essa área permeável seja maior e melhor aproveitada.

“De modo geral, áreas ajardinadas e gramadas conseguem reter a água da chuva de forma melhor. Portanto, se somarmos essas pequenas áreas permeáveis dos lotes particulares, conseguimos fazer uma grande diferença numa condição urbana. Se o terreno estiver muito construído, com muito piso, entram outras soluções. Jardins de água, piscinões. Conseguimos implantar, mas, costuma ser mais caro do que manter a área verde natural”, explicou a arquiteta.

O trabalho do paisagista também contribui com o meio ambiente, em questão de temperatura, e com a saúde das pessoas. As superfícies pavimentadas refletem o calor e promovem ambientes quentes. Ainda, uma superfície ajardinada absorve o calor e causa outros benefícios, principalmente quando pensamos em grandes cidades. “Em ambientes ajardinados, conseguimos criar um microclima que diminui o calor e preserva a umidade. Além disso, temos uma questão importante para a saúde. Pesquisas mostram que as pessoas se recuperam mais rápido quando estão próximas à natureza. Não precisa ser uma floresta, mas pequenas vegetações. Esse contato pode fazer a diferença”, citou.

Paisagismo residencial.

Então, quanto realmente vale esse tipo de projeto?

Não, nós não falaremos sobre custos neste tópico. Mas é bom lembrar que existe outra vantagem de contar com um bom projeto de paisagismo em sua residência: a valorização do seu imóvel.

Uma casa que possui uma área externa de qualidade pode possuir algum destaque especial, que a torna exclusiva. “As pessoas compram imóveis por questões práticas: o preço que podem pagar, a localização… Mas, também, por questões subjetivas. Então, comprador se apaixona por um detalhe, pela possibilidade de usufruir de um determinado espaço. Isso pode simbolizar um desejo, um espaço para viver com as crianças, junto da natureza. Tem muita relação às nossas memórias da infância, mesmo”, finalizou Sakata.

Projeto de paisagismo em exteriores,

Achou esse post relevante? Assine nossa newsletter e receba conteúdos em primeira mão!

Comentários:

Respostas de 4

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

Assine nossa newsletter

baixe nossos materiais

Posts relacionados

Assine nossa newsletter e fique por dentro das novidades na área de loteamentos