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Os benefícios de uma cidade bem planejada para a sua população

Publicado em 16 de junho de 2021

Tempo de leitura: 5 minutos

O Brasil perdeu dois grandes nomes da Arquitetura e Urbanismo de sua história em 2021. No dia 27 de maio, Jaime Lerner, um dos responsáveis pelo Plano Diretor de Curitiba e considerado um dos mais importantes urbanistas dos últimos tempos do País. No dia 23 de maio, Paulo Mendes da Rocha, vencedor do Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial e responsável por notáveis obras como a do Museu Brasileiro da Escultura e pelo projeto de reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Jaime Lerner e Paulo Mendes da Rocha.

Ambos os profissionais deixaram um legado de uma arquitetura socialmente responsável e ressaltaram, em suas diversas obras, a importância do urbanismo. Como forma de homenageá-los, a InstaCasa convidou, para um #PapoDeEspecialista, a arquiteta Julia Turella Roesler, que faz parte do nosso time de arquitetura, para conversar sobre a importância e os benefícios de uma cidade bem planejada para a sua população.

Julia Turella Roesler
Julia Turella Roesler é Arquiteta e Urbanista formada pela Faculdade Belas Artes de São Paulo. Possui experiência em incorporação, projetos residenciais e interiores.

Conceito e benefícios de uma cidade bem planejada

De acordo com Roesler, uma cidade bem planejada sempre dependerá das necessidades de sua população. “Cidades planejadas são aquelas que, a partir de estudos e projetos urbanísticos, foram construídas de forma organizada e pensadas para que toda a população viva e conviva da melhor forma. Estes fatores variam de acordo com vários aspectos. Por exemplo, a população e o local no qual a cidade está inserida. As necessidades de uma cidade no Norte do Brasil são completamente diferentes de uma cidade do Sul do Canadá. Em questões climáticas principalmente, mas também em cultura e costumes”, explicou.

Ela ainda citou que as maiores vantagens de se viver em cidades bem planejadas são aquelas que envolvem a qualidade de vida da população: transporte público de qualidade (como é o caso de Curitiba/PR que, graças ao plano de Jaime Lerner, desenvolveu canaletas exclusivas para ônibus expressos, chamados de BRTs); espaços públicos receptivos e bem projetados (caso da Pinacoteca, reformada por um projeto de Paulo Mendes da Rocha); segurança e sustentabilidade. “Cidades planejadas também têm uma ótima economia urbana, atraindo mais investimentos que, por sua vez, rodam as atividades econômicas de uma forma mais rápida. Organização, infraestrutura de qualidade, saneamento básico… Tudo isso faz diferença para as pessoas e, também, para a economia do local”, disse.

Um transporte público de qualidade, por exemplo, oferece benefícios como: tempo livre para ficar com os amigos e família; chegar na hora para os compromissos; prioridade aos ônibus nas vias públicas; segurança e conforto nas paradas e terminais; redução da poluição do ar; e inúmeros outros benefícios que podem ser observados a partir do correto planejamento de uma cidade.

É fácil entender esses benefícios quando observamos grandes capitais que cresceram de forma desordenada no último século, tanto em população quanto em habitações. De forma geral, isso passou a ocorrer com a extinção do regime escravocrata, em 1888. De acordo com João Carlos Ramos Magalhães, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), “essa extinção regimental, sem a criação de políticas de inserção dos ex-escravos no mercado de trabalho ou de garantias básicas de sobrevivência (alimentação, moradia e saúde), gerou migrações em massa para as cidades de desempregados e subempregados que, sem condições de comprar ou alugar moradias legais, se alojaram em cortiços, antigos quilombos ou construíram moradias em áreas ilegais e desvalorizadas de morros, grotas e pântanos. Sem indenização, seus moradores passaram a ocupar os morros mais próximos”.

Imagem: Revista Exame

Além da grande dimensão, as favelas chamam a atenção por suas características urbanas. A construção desses territórios se dá a partir de uma adaptação contínua pelos moradores de suas casas e dos poucos espaços públicos restantes às suas necessidades. Seus espaços resultam de uma “arquitetura do acaso”, de virtudes aleatórias, democráticas e não-formalistas, que permanecem em contínua mutação e fogem totalmente do que consideramos ideal para um planejamento urbano acessível e bem feito. 

Uma cidade que cresceu de forma espontânea pode ter qualidade urbana?

Conforme a profissional da InstaCasa, sim, é possível que uma cidade que cresceu de forma espontânea tenha qualidade urbana. “Entretanto, é preciso muito mais esforço para que isso aconteça do que para uma cidade que foi planejada desde seu início. Nas grandes cidades, com mais de 20 mil habitantes, existe um mecanismo que busca o controle e melhoria da sua expansão urbana chamado Plano Diretor Estratégico. Esse plano tem revisões periódicas feitas pelos prefeitos, junto à população, que é convocada em audiências públicas, para a definição e alteração do plano. Dessa forma, é possível observar problemas de uso e ocupação do solo e possíveis melhorias. Lembrando que isso é apenas um dos vários mecanismos que podem ser utilizados para se fazer o planejamento de uma cidade”, disse a arquiteta.

E finaliza. “É importante ressaltar que uma cidade planejada também está em constante mudança, portanto, o planejamento deve acompanhar o seu desenvolvimento”.

Plano diretor de SP
Imagem: Prefeitura de São Paulo

Uma cidade bem planejada é, também, uma smart city?

Anteriormente, em nosso blog, trouxemos uma discussão sobre as smart cities, conhecidas como cidades inteligentes, que estão se tornando uma tendência mundo afora. Entre os conceitos de uma smart city, está a importância de um bom planejamento urbano, mas não é somente isso. 

“Atualmente, estamos utilizando muito da tecnologia no nosso dia a dia e, com as cidades, não é muito diferente. Cidades planejadas e que se importam com o desenvolvimento estão começando a se tornar smart cities, mas isso não é uma regra. Estamos em constante evolução e, se podemos utilizar da tecnologia para conseguir mapear e resolver problemas de funcionamento de uma cidade, por quê não utilizá-la? Entretanto, é importante ressaltar que apenas utilizar a tecnologia não significa que uma cidade é uma smart city, nem uma cidade planejada. Por exemplo, uma cidade bem planejada pode fazer o uso de painéis solares, pois é uma iniciativa sustentável e também uma tecnologia, mas se eles não forem bem instalados, se tornam um custo e um problema. É necessário que haja um estudo de incidência solar para saber onde melhor posicionar os painéis. Se não for feito da forma correta, não é um benefício direto à sociedade e não faz com que a cidade seja inteligente apenas pelo seu uso, mas é parte de um planejamento que pode contribuir para o urbanístico como um todo”, finalizou Roesler.

Imagem aérea de cidade bem planejada.

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