No ano de 1962, o estúdio de desenho animado Hanna-Barbara produziu a série animada “Os Jetsons”, que introduziu no imaginário da maioria das pessoas daquela época como seria o futuro da humanidade. Algo que saltava os olhos, no desenho, era a tecnologia presente em todos os aspectos da vida de seus personagens. E por mais surreal que possa parecer, hoje, diversas daquelas tecnologias apontadas nos anos 60 se tornaram realidade. E aqui começa a nossa jornada para descobrir o que é, realmente, uma smart city.
Smart city, em tradução livre do inglês para o português, refere-se a uma cidade inteligente. E o que seria uma cidade inteligente, então? Para começarmos a entender o significado desse termo, a equipe da InstaCasa convidou para um bate-papo o Market Developer Brazil da IOTA Foundation, Rafael Presa, que explicou, em uma breve entrevista, sobre esse sistema inteligente que está ganhando cada vez mais espaço neste “novo mundo”.
O que é uma smart city?
“Muitas pessoas têm uma impressão equivocada do conceito em si, principalmente quando se pensa que uma smart city é uma cidade que, necessariamente, dependerá de tecnologia. Na realidade, uma cidade inteligente alavanca o uso de tecnologia, mas com o foco na melhoria da qualidade de vida dos seus integrantes. Isso é, a sociedade como um todo, trazendo benefícios de uma forma geral. Esses benefícios podem transbordar esse conceito de dentro de uma cidade para o seu entorno. Uma série de fatores vão determinar se uma cidade é inteligente ou não, e a tecnologia é só um ponto. Existem diversas situações que, embora a tecnologia dê subsídio, não traz um benefício direto à sociedade. Então, não tem motivo para considerar que essa cidade é inteligente”, explicou o profissional.
Assim, podemos presumir que, além da tecnologia, o conceito de smart city engloba, também, um desenvolvimento sustentável da sociedade como um todo. Ou seja, esses dois pontos precisam caminhar juntos para que o propósito da cidade inteligente, que é gerar crescimento econômico e bem-estar para a sua população, seja cumprido.
Alguns dos benefícios que a tecnologia pode trazer para a sociedade envolvem:
- Segurança;
- Coleta de lixo;
- Monitoramento climático;
- Mobilidade urbana;
- Internet;
- Economia elétrica.
Ainda, a implementação de uma cidade inteligente pode ser feita de duas formas: forma centralizada ou forma descentralizada. O que isso significa? A forma centralizada envolve gestores públicos, como prefeito ou governador. Por sua vez, a forma descentralizada tem relação com investidores, empresários ou loteadores, que implementam a tecnologia em um determinado espaço e, posteriormente, esta pode beneficiar terceiros.
Smart cities e o mercado de loteamentos brasileiro
Quando trazemos essa realidade para o mercado imobiliário brasileiro, que é extremamente tradicional e que, durante a pandemia da COVID-19, precisou se reinventar para se adequar às necessidades dos consumidores, algumas questões importantes batem na porta, como, por exemplo: será que, economicamente, vale a pena?
“Se eu colocar essas tecnologias de smart cities no meu loteamento, eu vou ter um bairro inteligente, mas preciso considerar como vou aplicar. Dependendo da pretensão, às vezes, a tecnologia é tão cara que não vale a pena, financeiramente falando. Mas isso é só um fator, uma vez que, o que mais pesa, na verdade, é a mentalidade das pessoas envolvidas nesse ambiente”, sintetizou Presa.
O CEO e fundador da InstaCasa, Mauricio F. Carrer, vê a tecnologia ser implementada no setor, mas em passos bem menores quando comparados a outros setores econômicos. “O setor de loteamentos é bastante tradicional e pulverizado, não existem muitas iniciativas de inovação voltadas a este mercado. Por isso, queremos levar mais tecnologia e dinamizar os processos de venda e ocupação dos empreendimentos”, complementou.
Segundo Rafael Presa, um dos fatores que mais contribui para a criação de sistemas inteligentes e, consequentemente, cidades/loteamentos inteligentes, é o chamado open data, ou simplesmente abertura de dados. E que isso significa? Resumidamente, é o compartilhamento de dados entre pessoas e empresas. Por exemplo: se a Ford está criando um carro autônomo, a Tesla pode compartilhar as informações que já existem sobre isso, para que o impulsionamento tecnológico ocorra entre ambas as partes.
“É uma cultura diferente daquela a qual o mercado imobiliário está acostumado e isso faz com que essa questão seja uma barreira muito maior que o investimento financeiro em si. As empresas, muitas vezes, não têm interesse na abertura de dados, mas como é que serviços serão integrados dessa forma? Para que uma cidade inteligente exista, por exemplo, é necessário que os fabricantes de semáforos estejam conversando com os fabricantes de ambulâncias, e compartilhando essas informações relevantes entre si”, disse Presa.
Cidades inteligentes podem ser consideradas tendências mundiais?
É fato dizer que as smart cities são, hoje, tendências mundiais, já que evoluções tecnológicas estão acontecendo todos os dias, cada vez mais. E isso vem sido provado, por exemplo, pela pandemia do novo coronavírus, que “forçou” a reinvenção de diversos setores e colocou à prova alguns serviços já existentes. “Mesmo já tecnológicos, o iFood, a Uber e todos esses serviços de entrega/transporte encontraram um trabalho gigantesco durante a quarentena, uma vez que as demandas aumentaram abruptamente. Alguns colaboradores que utilizam os aplicativos encontraram dificuldade até mesmo para ter acesso a determinados condomínios. E, aqui, vale ressaltar: a tecnologia de gestão de condomínio, que facilita (e MUITO) a entrega do serviço oferecido por essas empresas citadas, é algo que agrega valor e contribui para essa transformação em bairro inteligente, e que não é tão cara, mas os loteadores ainda têm certo receio”, explicou Rafael.
Então, por mais que estejam em pauta, essas tecnologias precisam ser provadas. “A comunidade precisa pensar adiante. Está muito além do falar, muito mais próximo do fazer. Não é só instalar Wi-Fi público, ou entradas USB na quadra do loteamento. Quando a gente implementa uma tecnologia, a gente agrega valor ao local. O cliente/comprador sempre dará valor para isso. Por exemplo: imagine que o loteamento oferece sensores, que são encontrados no mercado internacional por $ 20 dólares/dispositivo, com tecnologia que informa as condições climáticas do local. Eu poderia sair com tranquilidade e deixar a minha janela aberta porque eu saberia que, se houvesse qualquer alteração meteorológica, o meu celular enviaria um alerta e eu teria como voltar pra casa e evitar que tudo ficasse molhado. É esse tipo de facilidade que conquista o cliente, que o fideliza. É esse tipo de tecnologia que é benéfica para aquele grupo de pessoas que mora na região”, exemplificou.
Aqui, existe somente um parêntese sobre essa “disseminação” das cidades inteligentes, conforme apontou Presa. “Até o momento não temos, com clareza, um estudo que demonstre qual é o ganho financeiro de ter uma cidade/loteamento inteligente. Isso acaba sendo um entrave para que esse conceito se espalhe, mas, na nossa percepção, não há para onde correr. A tecnologia chegou para ficar”, finalizou.
Resposta de 0
Muito bom!!!!
Olá, Juliana! Ficamos felizes por você ter curtido o nosso artigo! Siga nos acompanhando aqui no blog e em todas as nossas redes sociais! 🙂
Muito interessante de se pensar para democratização do acesso a grandes tecnologias de moradia.
Bom dia, Meyene! Ficamos felizes que você tenha gostado do conteúdo. Continue acompanhando o blog, pois sempre trazemos novidades para os nossos amigos leitores!