A importância da arborização para os grandes centros urbanos

Publicado em 30 de outubro de 2020

Tempo de leitura: 7 minutos

Você já deve ter olhado, na sua cidade natal ou quando viajou para algum lugar diferente, para sucessões de concreto na rua. Prédios, casas, asfalto. Grandes construções que compõe a paisagem urbana, principalmente nos grandes centros brasileiros. Percebendo essa imensidão cinza, você já pode ter se perguntando: mas e os espaços verdes? As árvores vistosas? Onde fica o “pulmão” da cidade?

Temos observado recordes históricos de calor em todo o território nacional e por isso a equipe da InstaCasa chamou, para um #PapoDeEspecialista, as Arquitetas e Urbanistas Paula Shinzato e Luciana Schwandner Ferreira, para um bate-papo sobre a importância da arborização para os grandes centros urbanos brasileiros, a fim de entender como as árvores são plurais em suas funções urbanas e ultrapassam o papel estético e o papel de resfriamento ao sombrear o nosso trajeto cotidiano.

Qual é o conceito de arborização urbana?

Quando ouvimos falar sobre arborização para os grandes centros urbanos, automaticamente pensamos sobre a importância de plantarmos mais árvores, o que é benéfico para a nossa geração e, também, para as gerações futuras, assim como foi benéfico para os nossos pais, avós e todos os outros ancestrais que compõe a nossa história.

Paula Shinzato
Paula Shinzato possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2003), mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2009) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2014).Atua como pesquisadora colaboradora no Laboratório de conforto ambiental e eficiência energética – LABAUT na FAU USP.

De acordo com Paula Shinzato, o conceito de arborização urbana é amplo e pode ser definido, segundo Robert W. Miller, Richard J. Hauer, Les P. Werner, no livro Urban Forestry: Planning and Managing Urban Greenspaces, como “a somatória de toda vegetação existente dentro ou ao redor de densas habitações, variando desde pequenas comunidades rurais a regiões metropolitanas. Mais especificamente, a arborização urbana é composta por todas as árvores nas vias, dentro das áreas residenciais, em parques, cinturões verdes. Incluindo árvores em terrenos públicos desocupados e em áreas privadas; nos corredores de transporte e a vegetação em áreas de bacias hidrográficas”.

Ainda dentro do conceito de arborização urbana, precisamos falar sobre a sua importância para a qualidade de vida de todos os habitantes de uma cidade, uma vez que somos nós que usufruímos dessa vegetação. Conforme Luciana, “a vegetação oferta muitos benefícios para quem vive nas cidades. Ajuda a regular o microclima urbano (oferecendo sombra e melhorando a umidade do ar), contribui com a estabilização dos solos (ajudando a evitar deslizamentos de encostas e o assoreamento dos rios e córregos), retém material particulado (ajudando a melhorar a qualidade do ar), oferece abrigo e alimento para a fauna, contribui para a saúde mental e física das pessoas, entre outros. A vegetação ainda faz parte das nossas memórias e da identidade cultural de uma cidade”.

Imagem que exemplifica a arborização urbana.
Imagem: Energisa MS

O que é o microclima urbano e qual é a sua relação com a arborização dos grandes centros urbanos?

Quando falamos sobre a importância da vegetação para a vida nos grandes centros urbanos, Ferreira deu destaque para o microclima urbano. Mas, afinal, o que isso significa?

Por definição, trata-se de uma alteração climática que eleva a temperatura local, diferenciando-a das condições climáticas próprias da região. De acordo com Wagner de Cerqueira e Francisco, no artigo “Microclima urbano”, a temperatura de uma cidade pode ser elevada em até 6°C por consequência do conjunto das seguintes ações: substituição da vegetação pelo asfalto, concreto e outras superfícies impermeáveis, que ocasiona uma grande absorção da radiação solar; verticalização das construções (edifícios), formando uma barreira para a circulação do ar e emissão de gases poluentes na atmosfera.

Luciana Schwandner Ferreira
Luciana Schwandner Ferreira é Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2019), possui graduação (2007) e mestrado (2012) em Arquitetura e Urbanismo pela mesma instituição. Atualmente é diretora da Divisão de Estudos Ambientais e Planejamento Territorial da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Assim, a arborização urbana desempenha papel importante para a mitigação desses efeitos. “O papel da vegetação em relação ao microclima está ligado a dois processos fundamentais: o sombreamento e a evapotranspiração. O sombreamento evita a radiação solar direta em materiais como asfalto e concreto, que podem acumular muito calor. Já por meio da evapotranspiração a vegetação capta a água que está no subsolo e a transfere para a atmosfera. Nesse processo, a temperatura do ar próximo à vegetação diminui. Porém para que a vegetação consiga desempenhar esses papéis ela precisa ter condições adequadas e principalmente um bom suprimento de água. Caso contrário a vegetação usará a água “apenas” para a sua sobrevivência e esse processo de evapotranspiração ficará muito reduzido. Assim, não basta plantar árvores na cidade, é importante garantir as condições de vida adequadas para o seu pleno desenvolvimento, resume Ferreira.

Um claro exemplo dessa importância é recente: as ondas de calor que atingiram o Brasil nos meses de setembro e outubro de 2020. Vivemos, sabidamente, em um país de clima tropical. Este caracteriza-se, durante o verão, com forte chuvas e temperaturas elevadas ao longo do dia. No entanto, eventos isolados como este têm causado impacto negativo, principalmente na saúde das pessoas (desidratação, exaustão, estresse térmico), e aumento do consumo de energia por uso de sistemas de ar-condicionado.

Por isso, a vegetação urbana, se bem utilizada, pode ajudar na adaptação dos efeitos do calor e sensação térmica de desconforto das pessoas. Segundo Shinzato, “o principal desafio é aproveitar ao máximo os benefícios provenientes da vegetação.  Além da questão estética, existem uma série de outros impactos positivos da vegetação em relação aos benefícios psicológicos: existem estudos da área de saúde indicando a redução dos níveis de estresse e uma recuperação mais rápida de pacientes que estão em contato com áreas verdes dentro dos hospitais”.

Imagem que exemplifica a arborização urbana..
Imagem: ArchDaily

Quais são os benefícios para os grandes centros urbanos?

Explicamos anteriormente, aqui no Blog InstaCasa, sobre o impacto das chuvas nas grandes cidades brasileiras. Naquela oportunidade, falamos a respeito da importância da existência de áreas permeáveis para o urbanismo. As vegetações urbanas, muitas vezes, também contribuem para minimizar esse impacto. De acordo com a arquiteta, “os benefícios voltados para as funções ecológicas compreendem o controle de enchentes, proteção contra a erosão do solo, ajuda na retenção e absorção das águas da chuva e proteção natural da fauna. Cria caminhos de passagem para pedestres e determina divisão de áreas com usos diferenciados”.

Essa arborização, entretanto, é definida pela administração pública do município, através de documentos que indicam parâmetros para a vegetação urbana. Conforme Shinzato, o processo de planejamento da arborização urbana, basicamente, busca responder às seguintes questões: O que eu tenho de vegetação? Quanto busco melhorar? Como conseguir implementar? Ao mesmo tempo que inclui a população, centros acadêmicos e ONGs nas discussões de cada etapa do processo.

Imagem que exemplifica a arborização urbana.
Imagem: Energisa MS

A profissional explica que, regionalmente, “o documento PMAU São Paulo descreve as três etapas para elaboração do Plano Municipal de Arborização Urbana, compreendendo a etapa 1, Organização e Planejamento, com definição do grupo de trabalho, levantamento dos dados, estudos e informações. A etapa 2, sobre Análise Atual e Visão de Futuro, com revisão e atualização do diagnóstico, discussão nos subgrupos, oficinas técnicas, oficinas participativas, questionário da população. Além de um plano de ação com análise e discussão das propostas, consulta pública, definição de indicadores, metas e cronograma. A etapa 3 é a Edição do Plano, com a edição e consolidação do material elaborado e divulgação”.

Além disso, o planejamento adequado depende de aspectos técnicos como:

  • Inventário da vegetação existente na cidade e informações específicas sobre a tipo de copa, altura, floração, crescimento e a espécie.
  • Levantamento das árvores de grande importância para a comunidade pelo valor histórico, forma, tamanho ou idade da espécie;
  • Mapeamento das árvores existentes que permita analisar a distribuição atual e como realizar o plantio de novas mudas em área de distribuição heterogênea e deficiente. Análise comparativa entre bairros e distritos;
  • Planejamento da Arborização nas vias, considerando a largura das vias e calçadas, área de circulação de pedestres e ciclovias;
  • Manutenção da vegetação existente e de novas mudas. Sendo essas ações: irrigação, podas, transplante, readequação de canteiros, remoção de vegetação parasita e interferentes e supressão.

Os aspectos de gestão envolvem as análises de dados levantados, considerando a distribuição de técnicos, equipes e a distribuição das árvores no Município.

Imagem que exemplifica a arborização urbana.
Imagem: Band

São espécies comuns para plantio, de acordo com o Informe GEO Cidade (2004), as espécies mais frequentes em São Paulo são:

 Nome científicoNome popularFrequência
1.Tipuana TipuTipuana18,51%
2.Caesalpinia peltophoroidesSibipiruna16,60%
3.Jacaranda mimosaefoliaAlfeneiro7,84%
4.Tabebuia sp.Ipê Amarelo6,23%
5.Tibouchina granulosaQuaresma5,49%
6.Ficus sp.Figueira4,87%
7.Bauhinia sp.Pata-de-vaca3,52%
8.Lagerstroemia indicaResendá2,95%
9.Holocalyx balansaeAlegrim-de-campinas2,82%
10.Caesalpinia ferrea var. leiostachyaPau-ferro2,43%
11.Jacaranda mimosaefoliaJacarandá-mimoso2,41%
12.Spathodea nilóticaEspatodea2,27%
13.Delonix regiaFlamboyant1,42%

Por fim, de acordo com Shinzato, “a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente – SVMA elaborou um manual técnico de arborização urbana indicando parâmetros para arborização em calçadas, com base em aspectos biológicos (espécies das árvores) e aspectos físicos em relação ao local para o plantio (largura da calçada, existência de rede elétrica aérea, recuo dos imóveis, distanciamento de equipamentos e tipo de uso da via pública). Nesse documento, foram apresentadas as espécies arbóreas mais indicadas para o plantio nas vias públicas, de acordo com três diferentes portes da árvore (pequeno, médio, grande)”.

Achou esse #PapoDeEspecialista interessante? Assine nossa newsletter e fique por dentro de todas as novidades do nosso blog!

Comentários:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

Assine nossa newsletter

baixe nossos materiais

Posts relacionados

Assine nossa newsletter e fique por dentro das novidades na área de loteamentos